Missão - Justin B. Weisheit

O frio da noite me obrigava a agarrar as cobertas que pertenciam a mim e me envolver a elas. Mesmo dormindo, meus sonhos manifestavam-se e eu estava na minha casa, a casa verdadeira, onde eu realmente deveria estar. Nos meus sonhos, eu tinha seis anos e dormia abraçado a uma manta de uma cor esverdeada, mas desgastada. Já estava se tornando cinza. A manifestação cerebral da minha mente me fazia abraçar minha própria camisa, me levando a imaginar que eu estava deitado com minha manta. Sorria durante o sonho. Basicamente, todas as madrugadas eu imaginava que estava em casa. Cada dia, vinha algo diferente, como ontem, que sonhei estando numa praça bem arrumada, sentado num banco branco e comendo pipoca, também a arremessando aos pombos, alimentando-os junto a minha mãe. De repente, tudo escurece. Me remexo na cama e bato a cabeça na parede, mas não acordo. A pancada me faz delirar, fazendo-me surgir num penhasco, e logo abaixo viria o mar, repleto de pedras emergindo. Eram pontiagudas, e se alguém me empurrasse, eu estaria morto. Olhei a paisagem que eu via a frente e senti vertigem. Caminhei alguns passos para trás. Acho que pisei num bloco de metal, pois deslizei e uma voz, rouca, começou a me explicar algumas coisas. Contou-me muitos detalhes que giraram em torno de minha cabeça. Disse que passará a invadir sonhos alheios para os pedir favores. Já estava ficando muito estranho, até ele falar o meu nome. Disse que eu iria até a Floresta da Desolação e que seria uma pena se eu morresse. E falou que um pégaso me esperaria na entrada do chalé. Isso me deixou inquieto. Comecei a, involuntariamente, me remexer na cama. Bati a cabeça na parede novamente, porém o impacto foi mais cruel. Acordei, suando e acabei batendo minha cabeça no peitoril da janela. O relinchar do pégaso invadia meus tímpanos, mostrando que ele estava impaciente. Eu não estava lá muito preparado para uma missão neste momento. Eu só desejava dormir e voltar a sonhar com minha vida antiga. Mas eu não podia, ou então um cavalo voador iria destruir tudo e todo mundo. Então eu decidi ir embora. Levantei-me na cama jogando as cobertas de qualquer jeito no chão. Limos. Fui ao banheiro e lavei meu rosto. Idiota. Troquei de roupa. Por quê? Penteei meu cabelo. Vingança. Peguei meus itens e fiz o arco desaparecer. Prendi a aljava nas costas. Pus o anel no dedo. Mas que droga. Tirei a aljava das costas e coloquei a armadura no corpo. Desaparecer. Finalmente. Meus itens de quando eu era indefinido também não seriam descartados. Botei a espada na cintura esquerda e a adaga na direita. Amarrei uma corda nos ombros e prendi-a sobre a aljava. Ir embora. Agora! Abri a porta. Montei no pégaso. Adeus, acampamento. O equino abriu as asas, relinchou e levantou as patas dianteiras, saltando e abrindo voo. O jogo começou, Limos. E você não vai conseguir o que quer.

Tranquilo. O cavalo me seguia. Isso significava que minha ameaça funcionara. Mas não queria dizer que ele não poderia fugir a qualquer momento e sair ileso, já que eu não tinha nada à mãos, exceto minha espada. Minha mão não parava de segurá-la, mesmo que a arma estivesse presa à cintura, e ainda embainhada. Estralos. As folhas estavam secas e partidas. Faziam-nos ceder ruídos de folhas se quebrando seis vezes. Quatro do cavalo. Duas minha. Caminhamos bastante até que enxerguei uma placa. Não consegui lê-la, então a ignorei. O pégaso não falava mesmo. Ouvi murmúrios de um ser revoltado. Da mesma pessoa/coisa que escutei quando pousei aqui. Na África. Na África do Sul. Então eu segui, encontrando um idoso com um corpo bem-formado roendo um osso envolto por mínimos pedaços de carne. Ele parou assim que me viu.
- Quem é a criatura que ousa invadir a área de Eresichtón? Revele-se, tolo! - Eresichtón? Que nome mais idiota. Então eu percebi que Erisichtón era o nome que localizava-se na placa da qual eu não consegui ler.  O velho ajeita suas roupas. Roupas, não. Nem sei o que era aquilo. Ele parecia usar a mesma roupa desde... desde 1940.
- Eu ouso invadir o seu territoriozinho inútil. E, cá entre nós, você parece bem velhinho, não acha, seu roedor de uma figa? Vá pra outro lugar brincar com ratos. - me acalmei um certo tempo. - O que quer aqui? Vá pra outro lugar tentar outra coisa. Que tal um emprego? - e a raiva surge novamente em minhas cordas vocais. - Você precisa seriamente de dinheiro! Suas roupas estão um trapo! Seu velhinho idiota! Vá tomar um banho, você fede a esgoto!

O.k., hoje está sendo um dia bem louco. Pra variar, venho de pégaso até a África do Sul e o dia nem amanhece, o que significa que eu estou fora do alcance de poderes. Já sei até quem tem culpa. Olá, Limos. Então, pra piorar tudo, um cipó maníaco agarra meu pé e o puxa pra perto do Tessaliano. E ele me dá um soco no nariz. Dei risada, pois o soco dele era fraco. De repente, o rei já estava com roupas trocadas. Armadura, xófis, escudo. Interessante...
- Até que enfim mudou o look, hein, vovô? - sorri, e ele cerrou os olhos. O cipó o puxou para uma árvore grande e ele se escondeu nas folhas, pronunciando-se:
- Você pagará pela sua insolência semideus... sim você pagará... não importa o motivo de ter entrado aqui, você ira me salvar dos dois jeitos, e segunda opção é eu te comer para tirar a maldição que a Deméter invocou em mim... Sinto muito, mas está é a lei da sobrevivência... - declarou Eresichtón.
Então eu iria rir para pensar numa resposta, mas de repente os ossos espalhados pelo chão se uniram e formaram esqueletos, armados com xófis e escudos, vindo pra cima de mim visando me espetar. Abaixei-me e me ergui quando os xifós voltaram para o lado dos esqueletos. Rolei por debaixo de um deles e corri para o pégaso.
- Ei, amigo, o que acha de lutar com uma pilha de ossos? - sorri para ele, puxando minha espada e meu escudo. Fiz um movimento ''ninja'' com a espada e chamei os esqueletos a mim. O equino voou até o outro lado do pátio da floresta e relinchou, chamando a atenção de um esqueleto, que correu até o pégaso e ficara pulando tentando acertá-lo. Os outros dois mantinham seus olhos fixos em mim.
- Venham, ossinhos.